Mais do que não saber, acontece de não querer mesmo se despedir. Pare para pensar, não é difícil de entender. Tudo o que é bom a gente quer que dure – talvez para sempre ou, pelo menos, por mais um ano, uma semana, uma hora, mais cinco minutos. Mesmo quando os conselhos de "curtir o momento" e se levar todo e completamente – corpo, alma e coração – ao presente são seguidos à risca, acontece de querer agarrar-se às pernas daquilo que, depois de algumas rodadas no ponteiro do relógio, se transformará em passado. Percebe? É uma frustração diária acordar e se deparar com um hoje que, na verdade, já é ontem e, em breve, ficará ainda mais longe, junto de tantos outros ontens. Tem os amanhãs e tem o hoje, eu sei e amo o agora, amo o desconhecido, sinto esperanças brotando como rosas selvagens no meio de um jardim abandonado. Há tanto para ser visto e vivido e depois lembrado, e hoje cedo me aconteceu algo tão incrível num segundo distraído, na fila para pegar o pão. Mas ainda existem os ontens, que guardam em cada segundo pequenos tesouros. Tesouros que não levamos por não saber como. Tesouros que se instalam na memória por incapacidade de materialização. Num mundo onde caminhamos por carvões em brasa, não é de se espantar que nos apegamos quase que visceralmente aos pequenos diamantes encontrados pelo caminho. É essa a lógica, se é que existe alguma. Acho que acordei um pouco saudosista, com o seu gosto na ponta da língua e o mundo na ponta dos dedos. Acho que fui acordada.
segurando o choro... tá lindo...
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