Céu aberto

"Eu não queria ir embora e esperar o dia seguinte. Porque cansei dessa gente que manda ter mais calma. E me diz que sempre tem outro dia. E me diz que eu não posso esperar nada de ninguém. E me diz que eu preciso de uma camisa de força. Se você puder sofrer comigo a loucura que é estar vivo. Se você puder passar a noite em claro comigo de tanta vontade de viver esse dia sem esperar o outro, se você puder esquecer a camisa de força e me enroscar no seu corpo para que duas forças loucas tragam algum equilíbrio."  
(Tati Bernardi)


Se o abraço curasse, se o beijo fizesse passar não haveria dor que durasse mais que o tempo de te encontrar. Mas a vida é tão mais difícil, pequena, e nós humanos somos um tanto bem mais complicados, que todas essas simplicidades que clareiam o quarto nas manhãs de sábado e nos salva da melancolia no fim do domingo só são alcançadas depois de muito esforço. É tudo tão contraditório que há cor onde deveria chover e chove onde nasce o sol. E hoje é segunda-feira, o início da luta pela chegada do próximo sábado, o encontro marcado com a paz. Meus dedos já não se cabem de tanto contar. O meu sossego ficou na cama, no lençol amassado, entre a tua cabeça e o meu travesseiro. Parti com a alma inquieta, com o coração desritmado e os olhos fugidos, voando baixo. Pedi tanto para que hoje fosse de novo domingo e de novo os lençóis fossem brancos e os móveis de madeira rústica e os olhos livres de dor, cheios de amor, só de amor. Mas hoje é hoje, não ontem, não leve, não fácil, sem cobertor. Hoje é como a pausa do sonho num dia que eu passaria deitada, de olhos virados para o lado de lá, buscando o sono encontrar você. Mas eu vim para fora, e aqui chove fino e venta forte. O frio que me corta as palavras é o mesmo que me congela de medo. Desculpe dizer, pequena, mas a vida não é como uma resposta depois de uma pergunta: penso agora, lembrando de tudo o que podia ter sido e não foi. Às vezes a reposta vem primeiro, às vezes nem vem. E se não te digo é porque não há o que dizer: está tudo nos desenhos das nuvens, tão claro e tão infantil que é só olhar para cima e perceber, pois falar é punir a liberdade de adivinhar. Não se aprisiona o que tem asas. Se o sentimento é capaz de chegar até aí, saindo daqui, não seriam dois pares de grades que o prenderia na garganta. E mesmo se eu fechasse os seus olhos com as mãos você saberia.  

2 comentários:

  1. estranho eh nao saber se tem a ver contigo ou se eh fruto da sua alma literária e sensível... mas q ta bonito demais, isso ta. e meio triste tbm...

    aponta pra fé e rema, pipoca :]

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  2. O sentimento é capaz de chegar até aqui...

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