A Flor

Enquanto eu falava me olhavam olhos cor de folhas secas. Enquanto eu virava primavera com o outono daqueles olhos, uma flor crescia no miolo da minha mão. Foi quando tudo o que não era importante deixou de existir: o cenário, as pessoas, o tempo, quem eu era e o que fazíamos ali. Aqueles olhos e eu vivendo um presente sem passado, dando aos segundos a eternidade. Mesmo que não nos tocássemos, mesmo que nunca mais a menina dos olhos me olhasse com ares de outono, mesmo que a flor fosse para sempre botão, não importava, porque os olhos refletiam a flor na minha mão. Primavera no outono. Naquela fração do tempo, éramos uma coisa só, a união de duas estações. E como numa redenção de encantamento, estendi o meu sorriso para a dona dos olhos passar. 

O outono ficou aprisionado nos seus olhos, veio o inverno, a volta da primavera e o verão. A flor ainda está aqui.