Desencontro entre quatro paredes


“Ficamos ambos parados e quietos, pensando muito. Como numa cena de fluxo lento. Fazia muito tempo que a gente não se via depois que tudo deu errado.”
(Gabito Nunes)

É difícil encontrar exatidão. Depois de desconfortáveis minutos, digo que fico todo o tempo que quiser, você diz que não saberia me ter. Digo que vou embora, você sorri e me abraça. Mais uma vez eu fico. Dou um passo pra frente, você recua dois. Falo do passado, você se diz com os dois pés enterrados no presente. Sonho um futuro ao teu lado, você se agarra à realidade do impossível. Faço do improvável o inexequível e você me convence que é amor, que nunca acaba, que nem adianta o tempo. Eu acredito e reinvento um plural que desafia os dias, te fito os olhos e te ofereço um meio sorriso. Desisto de desistir. Você não fica nem vai, não sobe nem desce, não chora nem ri. Nada. Nenhuma nova palavra, nenhuma estreia de atitude, apenas beijos roubados. Beijos mudos, pálidos, frios. Lábios nos lábios, respiração contida. Tudo parado: o quarto, a rua, os olhos, o coração. Tudo assim, meio morto, meio vivo. Mudez pela falta de palavras. De tanto não piscar os olhos choram, de tanto não bater o coração para e de tanto tentar alguém desiste. Os olhos no teto branco, ventilador ligado soprando mau presságio. Nós dois num barco furado, ninguém remando. Morreremos antes de chegar na praia. Alcanço tua mão, suspiro. Você fecha os olhos e vai.

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