Acordei com a frase na cabeça, dita por um amigo em noite recente, e com ela fiz o trajeto parada de ônibus-trabalho, trabalho-parada de ônibus, parada de ônibus-casa. Foi difícil me concentrar no externo à tudo que me ligava ao esforço em extrair o sumo daquilo que nem sumo tem. Talvez o tempo que eu gaste com isso seja realmente grande, tão grande que surrupie parcelas de tempo que deveriam ser gastas com outras coisas, mas não o considero inútil. Eu não desisto apenas porque desistir não é nobre. Eu não desisto porque desistir é abandonar. E o abandono é como uma casa de madeira apodrecida no mais rigoroso inverno. Enquanto houver quem habite aquela casa, eu vou insistir. Não sou nobre nem nada, sou apenas avoada, distraída e atrapalhada. Vendo-me de longe talvez eu nem pareça ter muito a oferecer, olhando de perto posso ainda transmitir a mesma despretensão. Eu não desisto porque dentro daquela casa aberta para o inverno entrar moram pessoas que precisam de mantas, cobertores, meias grossas e chás quentes. Dentro daquela casa existem pessoas que me esperam com os braços abertos. Eu levo abraços, eu levo laços, eu ajudo a enfrentar o inverno e a enfeitar o inferno. Naquela noite, esse meu amigo me dizia com a voz tão doce: "ei, não se tira leite de pedra! Isso é vampirismo emocional: só sugar, só extrair e não colocar nada no lugar." E os sorrisos que me voltam, os olhos cor de outono que piscam lentos e brilhantes para mim, as mãos que puxam as minhas num solavanco de salvamento: tudo isso não conta?
"E o abandono é como uma casa de madeira apodrecida no mais rigoroso inverno."
ResponderExcluirSe há para quem voltar, o abandono é bem claro nesse sentido: há braços quentes para te confortar... :)
Esprero que você esteja certa, Vanessa, e que hajam desses braços quentes para mim e para você. ;}
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