De tanto pisar em brasas e tentar não sentir dor, comecei a entender que só a dor revela o nível de sensibilidade e o quão fina ou grossa é conservada a textura da pele, a ponto de levar aos urros ou à sensação de flutuar sobre os restos de fogo.
Se eu consegui atravessar as brasas? Não é esse o ponto interessante de se pensar a vida como a intensidade daquilo que queima. O que balança o raciocínio é justamente a contraversão de sentir ou não sentir: a brasa, a brisa, o fogo, a vida.
O que faz da pele menos tátil? O que faz o tato aguçar? Ouvimos a expressão sentir na pele quando o assunto é a vida em risco ou a miséria em latência, ou isso e aquilo juntos. Mas o que significa sentir na pele? Vestir a dor do outro como se fosse uma segunda pele? A sua pele na pele dele. A sua dor em contato direto com a dor dele. Seria isso? Ou não, sentir na pele seria a forma de dizer "só eu sei o que eu passei, só eu sei o tamanho da minha dor" e assim fincar a bandeira de conquista da Solidão no topo da montanha? Ou então, seria uma forma de comparar duas dores? "Olha, a minha dor é maior do que a sua." Nessa competição, quem sai ganhando?
Das opções lançadas eu ficaria com a primeira. Não apenas por ser ela a mais poética ou mais condizente com o que se espera de alguém que escreve sobre flores e passarinhos, mas porque eu mesma vivo em busca de quem me vista, de quem me caiba e para quem eu sirva. E vivo de acreditar que alguém que é capaz de vestir as suas tristezas para tentar te entender, é também capaz de te oferecer a alegria como segunda pele para te aquecer a alma. Para mim, troca é isso. Companheirismo é também amparar a dor, é também ouvir e poder falar; é abraçar o corpo sabendo que a alma vai se sentir abraçada e beijar a boca até a alma se sentir beijada. Não conheço tristeza que não dê trégua para um pouco de amor.
Os meus caminhos não se enveredam entre o certo e o errado, eles se fazem do sentir ou não sentir. E é entre o sentir absoluto e o medo do não sentir nada que, antes de dar o primeiro passo no rastro de brasa, eu me faço essa pergunta: a quanto tempo não me arde o coração?
Eu não sei o que falar... Mas Milton sabe!
ResponderExcluir"Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida..."
nao sei se me acho ou se me perco nessas trilhas de luz q vc deixa nesses seus caminhos. vc me esquenta o coração, pipoca.. obrigado. =]
ResponderExcluireste texto me ajudou na construção de um personagem.
ResponderExcluirObrigada pela visita...
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