Ou, quando o fim do parágrafo é o fim da linha
Você se sentou ao lado – do lado esquerdo, porque bem me lembro –, procurou um assunto, com aquele seu jeito de dizer mais com as mãos do que com as palavras. Seus olhos ficaram assustados e eu achava graça. Você com os olhos pequenos arregalados e eu com os meus grandes quase fechados – tudo para parecer destino, coisa de alma. Penso agora que daria uma ótima foto, um tipo de casal instável sentado num café da avenida principal no meio da tarde, como se não houvesse nada mais de importante a ser feito. E não havia. Risinhos frouxos e olhares furtivos, bebericadas no café quase que sincronizadas, quando o silêncio reinava por minutos inteiros. Faltava o que dizer. Ou melhor, faltava o que querer dizer, porque qualquer coisa dita pareceria menor. Os dois num esforço harmônico para parecer à vontade, fazendo daqueles estreitos bancos a própria casa. Eu ensaiava um papo agradável, mas me perdia com o embrulho nos teus braços. Tudo em você me distraía, me atrasava o papo. Pulamos etapas. Não por pressa, nem pela idade já não tão educada. Apostávamos nas diferenças, apoiávamos nas experiências anteriores que não deveriam repetir-se jamais. Éramos sós. Você. Eu. Você e eu. Foi difícil no começo, a gente sem jeito. Eu pensava em respeito e você parece que nem pensava direito. Nunca concordávamos e, apesar da timidez, éramos metade opinião. Eu falando baixinho, coisas pensadas anos antes, e você gesticulando cheio da razão argumentada: tão lindo na simplicidade. Era bobo. E eu, meu Deus, como gostava! Veio a ideia de nos mudarmos para um lugar afastado, de tirarmos férias dos empregos e adotar filhotes. Foram dias e noites de conversas animadas no terraço. Discutíamos de sessões de livrarias, discos de vinil e compactos até o lado da cama e a posição do porta-retrato, ainda sem foto. Pensava em casamento e você, acho que ainda nem pensava direito. As rosas nasciam nas brigas para trazer calmaria. Era assim, como um eterno inacabável. O jardim quase sempre florido. Ríamos. Ríamos muito. Ríamos alto, baixo e sem barulho. Ríamos no teatro, no cinema, escovando os dentes e embaixo d'água. Penso que era felicidade. Mas com o tempo, coisas incomodaram. O teu charme pareceu-me forçado, o meu papo-cabeça sempre chegava na hora errada. Você pensou em casamento. E eu já não pensava mais em nada. Enquanto éramos sem jeito, dávamos um jeito. O tempo veio como um forte vento, e arrastou o que foi feito para ficar. Mas ainda me lembro: bebíamos café porque não éramos líquidos e nossas almas derretidas não cabiam em canecas. No fim da tarde, no fim do parágrafo, no fim da vida.
nao sei mais medir até q ponto pode ser ficção e ate onde esse coração aí do outro lado se dói de verdade pela realidade dos acontecimentos. nem sei o q eh acontecimento e o q eh parte da sua cortina de sonhos. soh consigo perceber q tás menos menina... e acho q nao é só impressão. tbm nao sei o qto eh bom ou ruim, mas brincar com as palavras eh coisa q vc, mesmo menina adulta, faz mto bem. e enche de orgulho o peito saudoso desse seu amigo distante aqui. :]
ResponderExcluirbjos pipocados pra vc e bjos pro nosso brasil =**
sinceras saudades... =(
Eu já estou convicta de que você, mesmo se estiver do outro lado do mundo, vai ser sempre um fiel amigo. Desses que tendo "ao lado" a gente desafia a geografia e tudo mais que vier.
ResponderExcluirTamo junto, Caiovisk!
Obrigada pelo carinho. #)
você sempre quebra meu coração com esses posts.. ._.
ResponderExcluirMano, essa parada é tua mesmo???
ResponderExcluirPoxa, parabéns viu.
Vez ou outra a gente se encontra nos acontecimentos da vida, Cela. Vai ver é isso.
ResponderExcluirBom vai ser quando os meus posts colar esse coração aí. ;)
Sim, truta, a parada é minha. Mas pode ser tua, se tu te identificar com ela.
ResponderExcluirObrigada, xu.
E sucesso pra banda! ;}
acho linda!
ResponderExcluirquer dizer... acho lindo!
><
Você é uma figura, R. #)
ResponderExcluirObrigada pela visita, bonitezo. *:
Agora é diferente, ou melhor, nao é mais...
ResponderExcluir(?)
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