Amanhã

Eu só espero conseguir agradecer a você por tudo: o que passou, o que virá. Conseguir dizer a você que foi bom você ter vindo, ter ficado, sem que me doa mencionar as suas partidas. Bendizer a sua falta de insistência que me obrigou a acreditar em mim, para não ser total descrença numa força interior já tão dispersa. Que me empurrou aos braços de um Deus sem braços, de um Deus puro que compadece da humanidade tão precária. Um Deus sem forma, mas com todas as cores e energias dos mundos. Um Deus que você, por não acreditar, me lançou diretamente em Seu berço de luz: onde descanso e almejo refazimento; e que me apresenta um jardim suspenso, onde as flores crescem da água salgada das lágrimas de quem sofre e do adubo orgânico que sobra no fim de toda dor.  Anseio o dia de saber seu sorriso tranquilo, um sorriso branco de paz. Espero o dia em que se surpreenderá com o brilho nos olhos e sentirá uma espécie de alegria da qual será inútil fugir, com a qual você terá de aprender a conviver e respeitar. O dia que chegará sem que eu saiba, sem a minha espera estática, sem aviso de cuco. A vida não se atrasa. O existir da gente é sempre pontual. Estamos onde estamos, quando estamos: vivendo e achando que não. O dia em que sorrirei a paz, brilharei meus olhos.


A primavera virá.