Dedicado à Bianca
Só nos é ofertado o que nos é de merecimento receber; somos compelidos a enfrentar somente aquilo que nos é suportável; a Verdadeira Justiça não falha, e a isso cabe o nunca – palavra tão evitada e demais espessa para a contemporaneidade. Os limites, aprendemos postumamente, sobrepõem-se à teoria. Não é fácil, e não ser fácil é previsto. Por isso, respeitável. As dores, inicialmente, cabem em frestas e pequenos furos. Porém, são como traças, logo dão seu jeito de apossarem de todo o espaço. Veja quão imensurável é o espaço... Eu sei, foge ao campo de visão. De que adianta os cálculos de diâmetro e os de raio? Área? Volume? O todo não é jamais visto. Talvez por Deus. Quem sabe... Quem? E Deus lá é gente? E Deus lá tem olho? Olhos, tão humanos, tão limitados. Grande, o ESPAÇO: cabe a nós e a todos os outros, cabem as nossas dores e as dores de todos os outros, as nossas alegrias e as deles. Afinal de contas, não viemos a passeio, o mundo não é uma festa. Mas deveria.
Sim. Deveríamos festejar a vida, brindá-la com suco de caju, comemorá-la com balões cheios de gás hélio, chapéus de bobos da corte, confetes, serpentinas, fitilhos coloridos e encaracolados, bolinhos de chuva e doces de maracujá. Aprenderíamos a dar cambalhotas, estrelinhas, cantar a alegria de trás para frente: só para festejar. Uma vida na Felicidade, aquela cidade pequenina. Teorias servem vezes sim outras não. A vida pesa ora sim ora não. Oração. Horas são... Quantas? Muitas, longas, fatídicas. Ponteiros batem, sinos badalam: não é festa, é convite. Convite ao mergulho de volta ao sem volta de ti. De mim. De nós. Retorno ao feto. Sem afeto. Afetado.
Previsível e registrado: ninguém disse que seria fácil. Se fácil fosse, cantaríamos em verdade, como as verdades que te foram ditas. E o canto é dado à arte. E à arte, a fuga. Somos todos lunáticos, muito embora com os pés fincados em barro fértil. A cabeça vai aonde os pés jamais pisaram. Quem nunca fugiu, mostre-me as pedras, a primeira delas. Não a tire! Não atire.
Se você chegou até aqui, é porque trocaria a coleção de pedras guardadas nos bolsos por vasos de flores, quão pesados fossem – haveria de ter lugar que os acomodassem confortáveis. Arremessaria sete pétalas de bem-me-quer no lugar de sete pedras. Permutação. Permita-se à ação. Permita-me a unção. Assim seja. A humanidade, com ou sem crase.
Amém.
Amém.
"[...] a Santa Madre Igreja corrigirá os erros das tábuas de Moisés e o sexto mandamento ordenará que se festeje o corpo; a Igreja também ditará outro mandamento, do qual Deus se esqueceu: "Amarás a natureza, da qual fazes parte". Serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma; os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são os que se desesperam de tanto esperar e os que se perderam de tanto procurar; seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham aspiração de justiça e aspiração de beleza, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem que importem nem um pouco as fronteiras do mapa ou do tempo; a perfeição continuará sendo um aborrecido privilégio dos deuses; mas neste mundo confuso e fastidioso, cada noite será vivida como se fosse a última e cada dia como se fosse o primeiro."
ResponderExcluirMe senti lendo uma música do teatro mágico. se tuas palavras tivessem rima no final delas, com certeza serias Anitelli de saia!
ResponderExcluirÉ interessante pois os temas que escolhe para desenvolver teus textos é tão "da gente" que ao lermos parece que foi feito para cada um de nós. Mesmo para aqueles que nem te conhecem! Já havia comentando isso contigo; Sinto esse fio Tenue entre você, as palavras e os leitores.
FOI LINDO.
Teamo!
amei texto maravilhosoooooooo
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