Equilibrista

"A esperança
Dança na corda bamba de sombrinha"

Em tentativas de discrição, eu olhava ao redor, deixava o lápis cair para olhar embaixo da mesa. Como aquelas coisas que não se diz, eu não falava o teu nome. Apenas dizia que buscava algo que há muito tenho perdido. Na verdade, eu apenas esperava. Esperava pela magia do destino. Houve certa vez, somente aquela única vez, que veio um anjo bater à minha porta. Hoje, se me pegam olhando o céu, distraída, digo que busco anjos e fadas escondidos nas estrelas. E espero. Espero esses mesmos anjos e fadas caírem dessas estrelas e me trazerem punhados de luz, de amor e porções de sabedoria. Espero porque daquela vez foi assim: eu olhava pelo vidro da janela quando ele bateu à minha porta, e eu abri. Por entre o vão vinha cheiro de alecrim e luzes fluorescentes num corpo de um metro quase dois de amor. Procuro uma espera paciente, em movimento. A cabeça rodeada de estrelas, enquanto os pés desviam dos espinhos do chão. Uma agonia quieta, uma tranquilidade esforçada. A tristeza conformada, sem conforto. Olho pro céu porque os anjos e as fadas da terra andam com o peso do mundo nas costas e os arrastam como fosse um baú cheio de vida. Eles têm beleza, mas não são confiáveis. Os olhos brilham, a pele arrepia, as bocas sussurram palavras bonitas. Depois é tudo posto no imenso baú e jogado ao mar. Os anjos e fadas da terra acabam se afogando no mar de lembranças, tentando salvar o seu baú de vida. O que poderia ser dito dos anjos e das fadas do céu? Que suspendem a vida como balões de gás hélio a levam consigo num gesto de encantamento? Talvez. Mas eu não consigo dizer, porque não consigo sabê-los. Os chamo em silêncio, num desespero contido, me equilibrando no último fio de esperança.

4 comentários:

  1. Tão lúcida quando fala mas quando escreve fica tão sentimental…

    eh da Lígia Fagundes Telles, mas me lembra tanto vc....

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  2. Tu és como o rosto das rosas:
    diferente em cada pétala.
    Onde estava o teu perfume?
    Ninguém soube.
    Teu lábio sorriu para todos os ventos
    e o mundo inteiro ficou feliz.

    De Cecília Meireles pra você, meu doce de Raquel. :}

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  3. vc eh uma fadinha, pipoca.

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  4. E você é um anjo, Minduim, daqueles que valem a pena acreditar mesmo quando já não se acredita em quase nada. Obrigada.

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